quinta-feira, 24 de julho de 2008

Rising Fever avisa: “me chicotear para quê?”

Faltam poucos dias para a festa máxima do turfe carioca, que com uma bolsa de R$ 250 mil ao vencedor (mais o Added), torna-se o principal evento dos cavalos de corrida de norte a sul do Brasil. Sendo que antes de chegarmos na semana máxima, não temos como fugir de mais um show que RISING FEVER proporcionou na areia de Cidade Jardim, no último sábado.

O CERCA MÓVEL conversou com a filha de Put it Back e Heaven Can Wait (Tokatee), criada pelo Haras Santa Maria de Araras, dois dias após a castanha garantir a sexta vitória na pista de areia, em sete atuações.

Rising Fever, faça um resumo sobre a conquista no GP Immensity (G2-1600mA)?
O jóquei Vagner Leal me conhece e sabe como gosto de correr. Me manteve na ponta, distante das adversárias e de problemas no percurso, para nos metros finais garantirmos mais uma vitória na raia de areia.

Você tem vencido com boa margem de diferença sobre as adversárias, como consegue tal facilidade?
Desde que passei a atuar na distância da milha que mudei meu modo de correr e isso favoreceu a minha performance. No Clássico Presidente Luiz Nazareno T. de Assumpção (L.-1600mA) comecei a correr na frente e, na reta final, o Leal reajustou minhas mãos e venci com 7 corpos de vantagem. Em seguida, no GP Presidente Roberto Alves Almeida (G2-1600mA) fizemos a mesma coisa e ganhei com 8 corpos. No último sábado, apenas repetimos a dose, mas as minhas rivais continuaram achando que iria cansar e pagaram um preço caro, pois cruzei o disco com 7 corpos. Antes de correr em 1.600 metros, sempre era guardada para uma atropelada e precisavam utilizar o chicote, agora não, já saio na frente e além de não tomar areia na cara, meu corpo não recebe uma única chicotada. Odeio chicote e areia na areia (reforça na queixa).

Então mudou o modo de correr para não levar areia na cara e chicotada?
É lógico, mas a decisão não partiu de mim, e sim do treinador Victor Barbosa. Um dia, durante o treinamento no Jockey Club de Campinas, o mesmo percebeu que corri abaixo do aguardado e ainda me recusei a correr com as chicotadas do piloto. O motivo: um torrão de areia entrou em meu olho, me deixou tonta e ainda por cima não gostei nem um pouco de levar chicotada. Apesar do Victor Barbosa não entender minhas palavras, ao menos percebeu meu rendimento abaixo do esperado antes de acabar o trabalho. Antes de encerrar o treinamento, ele chegou perto, me olhou nos olhos e soprou, retirando a areia. Aproveitou para orientar ao redeador para lhe entregar o chicote. Voltei para a raia, corri na frente, e encerrei o trabalho com ótimo tempo, satisfazendo não só a ele, como a mim. Desde então, ele passou a orientar o jóquei que sempre me mantesse na frente e só utilizasse o chicote em casos supremos, mas de preferência, guardasse o objeto de lado.

Tens alguma balda de largada?
De forma alguma e isso também favoreceu ao meu novo modo de correr ponteando. Sem falar que, somado a não tomar areia na cara e chicotadas, também é ótimo escutar o locutor Casella anunciar “de bandeira a bandeira a melhor”. (relinchou)

Na areia você é invicta, mas perdeu quando atuou na grama. Pensa em voltar a correr na relva?
Não tenho nenhum problema com a pista de grama. Havia corrido duas vezes, em 1.200 e 1.300 metros, ambas na areia, com fáceis conquistas. Faço a estréia na raia de grama competindo contra 11 competidoras, em que a maioria já havia vencido naquela raia, e em 1.500 metros. Sofri diversos prejuízos durante o percurso, mesmo assim formei a dupla, com ¾ corpo para Uptothepost. Também era a primeira vez que o Nelito Cunha me conduzia. Enfim, tenho certeza que não teria problema em voltar a correr na grama, mas, sinceridade, prefiro seguir na pista de areia. Aprecio uma raia mais soltinha. Me sinto voando a cada passada.

Nos próximos meses, têm poucas provas clássicas na pista de areia, então qual será a próxima atuação de Rising Fever?
Eu adoraria participar do Clássico Delegações Turfísticas (L.-1900mA), que será realizado no Hipódromo da Gávea no dia 4 de agosto. Sei que o prazo de tempo é mínimo, mas assisti na cocheira um vídeo da égua Be Fair no Derby carioca do ano 2000, o GP Cruzeiro do Sul (G1-2400mG), quando ela perdeu por ½ corpo para o tríplice coroado Super Power. Adorei a corrida e principalmente saber que 21 dias antes, a Be Fair havia conseguido ser tríplice coroada. Passei a vê-la como um exemplo e por isso não vejo a hora de encarar os machos, em pouco tempo.

Sendo que para competir no Clássico Delegações Turfísticas, no Rio de Janeiro, a diferença será de apenas 16 dias. Não achas muito arriscado?
Claro que sei das dificuldades, principalmente porquê nem conheço ainda a distância, diferente da Be Fair, que já havia atuado em 2.400 metros antes do Derby. Meu treinador Victor Barbosa e os responsáveis pelo Haras Springfield não querem arriscar. Eu me sinto muito bem e adoro correr. Por mim, viajaria sem problemas para a Gávea, mas sei que eles buscam o melhor para meu bem estar, por isso não serei anotada para a corrida.

Além de você, Giruá também tem mostrado valor na pista de areia paulista, na distância da milha. Pensas em enfrentar o cavalo?
O “tordilhão” é maravilhoso! É meses mais velho que eu, mas nos damos super-bem. Acho Giruá muito interessante, não só como corredor, mas como cavalo. Temos um respeito impressionante um pelo outro. Corre muito e já conversamos sobre atuarmos no mesmo páreo. Quem venceria eu não sei, mas com certeza o páreo seria inesquecível para nós e para quem assistisse. É provável que esse encontro ocorra, mas não em pista brasileira.

Como assim “não em pista brasileira”?
Muito simples. Nós, eqüinos, não somos jogadores de futebol, mas assim como eles, sonhamos em atuar no exterior, em especial nos Emirados Árabes. Pelo fato de apreciarmos (eu e o Giruá) principalmente a pista de areia, a possibilidade de conseguirmos viajar para Dubai é maior. Então acredito que no final deste ano, ou começo de 2009, se tudo seguir bem, posso seguir campanha no exterior, assim como o Giruá.

Além de você, mais alguém da equipe do Haras Springfield tem o mesmo desejo?
(Relinchos) Não quero entregar ninguém, mas bem que ouvi o treinador Victor Barbosa sussurar próximo ao meu boxe: “Você corre muito. Ainda me levará para a Argentina e Dubai.” Ou seja, se dependesse dele, com certeza eu atuaria em alguma prova clássica no Hipódromo de Palermo, na Argentina, para depois seguir para os Emirados Árabes, para tentar vaga em uma das provas da Dubai World Cup 2009. Sendo que primeiro vamos aumentar o percurso. Tentarei alcançar os 2.000 metros. (promete)

Está decidido que não participarás da festa máxima carioca. Mesmo assim, tem alguma torcida para o GP Brasil (G1-2400mG)?
Apesar de adorar ser conduzida pelo Vagner Leal, o mesmo já ganhou o GP Brasil de 2007 com L’Amico Steve, então, mesmo sem nem saber quem ele irá conduzir, não me sinto culpada em torcer por outro puro-sangue inglês. No caso, pelo Quick Road. Ele está se preparando no Centro de Treinamento de Porto Feliz, que nem é tão longe daqui de Campinas. Anda merecendo essa conquista, principalmente pelos prejuízos sofridos quando tentou o bi no GP São Paulo. Com Jorge Ricardo sobre o dorso, será difícil alcança-lo na Gávea. E para aumentar ainda mais a torcida, Quick Road, assim como eu, também nasceu no Haras Santa Maria de Araras. Nós dois temos sangue Ghadeer pela linha baixa. Ele como avô materno, eu como bisavô. Enfim, é para o alazão do Stud JCM que vai minha torcida para o Brasil 2008.

Finalizou a égua de 4 anos, que espero poder vê-la correr mais uma vez em pista brasileira.

TRÊS MIL ACESSOS

Essa semana, o CERCA MÓVEL imitou o jóquei Carlos Lavor. O bridão carioca, que em novembro próximo chegará aos 40 anos, obteve no último domingo a vitória de número 3.000 (três mil) com a égua Quel’Amour, de criação e propriedade do Haras Santa Maria de Araras (que essa semana, também ‘roubou’ a cena nesse espaço).

Assim como Lavor, o CERCA MÓVEL também alcançou a marca dos três mil acessos, que é de grande valor para nós, pois a coluna só é atualizada uma vez por semana e comprova que tem leitores fiéis.

Obrigada a todos os turfistas internautas que buscam nesse espaço entender melhor os cavalos de corrida.

Foto: Paulo Bezerra Jr. (Pica-Pau)

Um comentário:

Marco Aurélio Ribeiro disse...

Diga lá, minha editora preferida.
Como sempre, ótima entrevista. Já está na hora de você conversar com um colega meu (matungo), de seus 5 anos, sem vitória. Ouvir suas lamentações, a tristeza de nunca ter passado na frente e sem perspectiva de futuro. Afinal, eles são quase maioria.

Fui!