quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Um tordilho para lá de charmoso

O que falar de um potro que faz sete apresentações na raia de areia e permanece invicto? Pois bem, o potro em questão é Giruá, um tordilho que corre uma barbaridade e que nos últimos dias atendeu ao meu chamado para falar sobre suas conquistas no CERCA MÓVEL.

O filho de Bonapartiste e Ellefrance (Fast Gold), criado por Eloi José Quege em Santa Catarina, foi adquirido por Eládio Mavignier Benevides e levado para o Hipódromo do Picci, no Ceará, estado onde seu proprietário nasceu.

"Muita gente achava que era loucura do meu ‘chefe’ (modo que ele refere-se ao Eládio Mavignier) me levar para Fortaleza. Pois saibam, adorei! Tomar água de coco, me refrescar nas águas quentes nordestinas, não tem coisa melhor. Isso sem falar que ainda tem umas potrancas interessantes no Hipódromo de Picci. Ganhei a Tríplice Coroa local e quando pensei que iria relaxar mais ainda, me trouxeram para São Paulo", relembra.

Giruá ficou sob os cuidados de Mario Gosik, em Cidade Jardim, e em setembro de 2007 estreou no prado paulista.

"Eu havia vencido a última prova da Coroa cearense em julho, mesmo assim, lá estava eu encarando páreo de perdedores em 1.400 metros. Estava chateado, pois o clima de São Paulo é péssimo comparado ao de Fortaleza. Quando entrava no boxe, Edu Mano veio me sacanear, dizendo ‘tem baiano no páreo’, achando que eu era nordestino e utilizando de forma pitoresca de gozação dos paulistas. Tratei de ensina-lo a correr e quando sai da raia com a vitória, deixei claro que apesar de ser catarinense, me sinto um autêntico nordestino."

Depois do primeiro desafio em São Paulo, Gosik tratou de voltar Giruá na distância da milha (a mesma que o potro havia vencido a última etapa da Coroa em Fortaleza).

"Os 1.600 metros para mim é moleza. Eu gosto muito! Encarei a milha paulista pela primeira vez em outubro, contra potros da mesma idade. O resultado: deixei todos para trás, mas sem dar tudo."

Com os bons resultados, ambos Giruá sendo conduzido por F. Leandro, havia chegado a hora de encarar o universo clássico paulista e João Moreira, líder do Jockey Club de São Paulo, foi o convidado a montar o tordilho em dezembro, na Prova Especial Itamaraty (1600mA).

"É muito diferente a forma que os outros competidores passaram a me olhar. Querendo ou não, o João Moreira é o líder de São Paulo e estava conduzindo o ‘baiano’ (referência por se considerar nordestino) do campo. Figurei como favorito. Larguei pela baliza 7, só tinha um mais afastado que eu. Dei vantagem durante toda a reta oposta, revezando entre a 4ª e a 5ª posições, enquanto Patenteado seguia firme na ponta. Quando entramos na reta final, o Moreira me deixou correr a vontade. Emparelhei com Patenteado, olhei bem para ele e disse ‘qual vai ser?’ Não deu tempo dele responder, pois o meu jóquei mostrou o chicote e tratei de mostrar como eu corro. Nem sei o que tinha em mente, apenas lembro que não levei chicotada nenhuma, pois corria alegre, descontraído. Após o páreo que fiquei sabendo dos seis corpos de vantagem que abri", relembra.

Depois da primeira vitória em Prova Especial, Giruá não teve dúvidas que os desafios ficariam mais difíceis.

"Não nego que fiquei feliz pelo bom desempenho em dezembro, até porquê havia enfrentado, pela primeira vez, cavalos mais velhos. Mas em janeiro a parada foi bem mais complicada. Sem falar que eu estava querendo um descanso. Quando vi o campo do GP Presidente do Jockey Club (G3-1600mA), com cavalos da categoria de Alcomo e Blue Elf, fiquei espantado. Mas minutos antes da corrida, fui relaxando, pois Moreira estaria sobre meu dorso", conta, escondendo algo.
Aproveitei o descuido do tordilho e o relembrei que o mesmo estava apreensivo dentro do boxe, antes da largada. Giruá não desmentiu minha observação.

"Realmente você está com a razão. Eu estava apreensivo. Acho que foi a falta da água de coco naquela semana. Moreira tentava se acertar sobre meu dorso, mas eu estava realmente inquieto. Corri diferente, fui logo para a ponta, demorei a me acertar. Quando me dei conta, já estávamos na reta final. Foi preciso o João me mostrar mais uma vez o chicote para eu acordar. Não sei o que houve até hoje, mas logo me corrigi e corri o suficiente para ganhar por dois corpos a prova".
Como todos os leitores do CERCA MÓVEL, procurei descobrir qual as manias de Giruá no dia da corrida.

"Preciso tomar água de coco antes e depois do páreo. Me acostumei. Perco um pouco de peso, mas paciência, compenso depois comendo muita alfafa. Adoro água de coco. Tá certo que as de São Paulo nem se comparam a de Fortaleza, muito mais doce, mas dá para tomar. Sim, e também costumo dormir cedo na noite anterior à corrida", confessa.

Sobre o futuro, o potro ainda desconhece os planos de seu proprietário.

"Ouvi alguns boatos na cocheira de que estão querendo me levar para correr na Argentina, talvez na Copa de Oro, sendo que não venci prova de Grupo 1 nem 2, o que seria necessário para participar do torneio de Palermo. Também tem outras provas importantes na areia de Cidade Jardim. Sei que sou capaz de correr bem nos dois quilômetros e encaro qualquer coisa, a hora que for, mas por mim, eu voltava para o Nordeste. Que saudade!"

COLINA VERDE

A tríplice coroada do ano de 2006, no Hipódromo de Cidade Jardim, me escreveu chateada. Colina Verde, que estreou com convincente vitória nos Estados Unidos no começo da semana, disse que saiu na Revista Turf Brasil que ela não havia conseguido a Tríplice Coroa de potrancas em São Paulo.

Me desculpei com a égua, pois o erro realmente existiu, visto que a filha de Know Heights e Verdadeira (Purple Mountain), criada pelo Haras Santa Camila, conquistou sim o cobiçado título, assim como o fez a sua avó materna Emerald Hill.

Colina Verde, sob os cuidados de Olavo Jeronimo e direção de Ivaldo Santana, venceu quatro provas no Brasil, sendo as três últimas os GP’s Barão de Piracicaba (G1-1600mG), Henrique de Toledo Lara (G1-1800mG) e Diana (G1-2000mG), vitórias que lhe renderam a Tríplice Coroa de potrancas.

Colina Verde, agora com 4 anos, garantiu que mandará notícias sobre as próximas apresentações nos Estados Unidos. "Sinto saudades do Brasil, mas aqui o turfe é muito diferente", assumiu.

2 comentários:

Anônimo disse...

Karol..esse teu papo com o Giruá me deram uma fabulosa idéia..Se água de coco aqui de sp perde mesmo peso,to comprando um container delas!! E sucesso ao multi vencedor tordilho !

Marco Aurélio Ribeiro disse...

Karol,

Imprimi sua última conversa e mostrei pro Alcomo. Se ele saber ler eu não sei, mas como você fala com "eles", é possível. Depois de olhar atentamente a coluna, não entendi o que ele disse, esse é um "dom" apenas sei, mas me olhou como quem gosataria de dizer: "Tordilhinho metido, vem para Gávea que eu quero forra" Bjs